O veículo, amarelo e grande, com as luzes rotativas cor-de-laranja acessas parou mesmo em frente ao prédio. Da parte de trás daquele, onde vinham pendurados, saltaram os dois homens do lixo para fazerem mais uma recolha. E assim se repetiu uma das infindáveis paragens que estes homens fazem noite após noite, seis dias por semana.
É curioso o facto de lhes chamarmos homens do lixo...
Com frequência apelidamos homens de “qualquer-coisa” pessoas que possuem, fazem ou estão nessa “qualquer coisa”. Por exemplo, os homens da bola, os homens da televisão, os homens do dinheiro, o homem do talho ou os homens das obras. Nesta perspectiva os homens do lixo deviam ser conhecidos por homens da limpeza porque é isso que eles, na realidade, fazem. Eles não possuem, não fazem nem estão no lixo. Apenas o recolhem.
Reparo agora que as mulheres que procedem às tarefas de higiene em empresas, por exemplo, são as senhoras da limpeza e não as senhoras do lixo ou as senhoras do pano-do-pó... o que parece apoiar este ponto de vista.
Assim, a haver homens do lixo somos todos nós, os que na realidade produzimos as toneladas de resíduos que os homens da limpeza têm de recolher diariamente.
Ou então não. E se calhar vou ter é de mandar este texto para reciclar...
(*) trocadilho, forçado, com o nome da empresa municipalizada responsável pela recolha do lixo em Braga – a AGERE.
1 comentário:
bom,tb acho intersante o teu pensamento...
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